Atenção: este artigo contém imagens e conteúdo relativo a um jogo inapropriado para menores de 18 anos. Se você não completou 18, ou se você mente ter 18 anos, ou se finge ser maior, ou qualquer coisa parecida, você não deve ler o que procede a seguir. Respeitem a faixa indicativa dos jogos e tornem o Brasil um país melhor com relação a isso.
Ah sim, essa review também contém spoilers.
Eu? Eu tenho 22. Difícil alguém estar no primeiro ano de mestrado com menos de 18 anos, ainda mais no BR.
Enfim, eu e o Fausto completamos Catherine. Não digo completar no sentido de acabar tudo o que tinha para fazer no jogo, mas posso dizer que fizemos o principal: os dos finais opostos.
Catherine é um jogo sério, não é brincadeira. Ele trabalha com temáticas do horror, do erótico, do sexual e do doentio. Apesar de ter uma certa aura cômica por trás do protagonista, Vincent, pelo que acontece é bem sério e caótico. O que, se você for levar para a realidade, é uma situação ordinariamente comum.
Ou seja: um rapaz, na faixa dos 30, ainda não resolveu o que quer da vida, namora há 5 anos com a mesma moça, que também tem mais ou menos 30. Sem se decidir, o rapaz se arrasta pelo relacionamento. Até que ela se cansa e resolve dar o bote, dizendo que está grávida. Pior, o rapaz fica tão perturbado que, do nada, resolve trair essa namorada com uma outra garota extremamente linda, anos mais nova do que a primeira. Enquanto isso acontece, ele enche a cara no bar todo dia, contando para os amigos os problemas.
No mundo real é bem simples, factual e ordinário. O cara é um otário, a mulher que está com ele merece coisa melhor, e nem a amante tem culpa. No mundo real as coisas se resolvem bem rapidamente: eles terminam, ele se acaba, ela se acaba, ela descobre, todo mundo entra em crise, mas eventualmente tudo falls into place e a vida continua. Quantos casais por aí não estão exatamente nessa mesma situação?
Por que então eu quereria jogar um jogo que trata de uma situação tão comum? Bom, simplesmente porque a maneira como isso é tratado é única. O que é mostrado no jogo é o abismo psicológico de Vincent, sendo atormentado por pesadelos todos os dias, cada vez mais afundando nas suas próprias irresoluções, participando da escuridão emocional de outros personagens. É um jogo que explora, mais do que tudo, a própria reflexão do personagem em relação ao que acontece. Ele é um otário, continua sendo um otário, mas o pensamento dele é exposto e junto com esse pensamento a tortura mental pela qual ele está passando.
A história do jogo acontece em 8 dias. Nesses oito dias é possível perceber uma ascenção e decadência dos dois lados do protagonista. Ascenção porque no jogo é possível ajudar outros personagens masculinos que perambulam pelo bar que Vicent frequenta. Essa ajuda é crucial para os eventos internos do jogo, e culminam no caráter de Vicent. decadência porque ao mesmo tempo em que ele ascende por falar e resolver problemas dos outros, ele afunda nos seus próprios problemas. O tanto que ele afunda é determinado pelas escolhas que o jogador faz. Se ele decide que Vincent tem que responder bem para a amante e mal para a namorada, ele fica cada vez mais safado. Se o jogador faz com que Vincent responda muito bem para a namorada, e mal para a amante, Vincent fica mais confuso ainda porque ele continua traindo.
E em meio a todo esse jogo de respostas é que o jogador vai determinando que final terá a história. Ao todo, existem 9 finais. Três deles são bons: O Law Ending, o Chaos Ending, e o Freedom Ending. Estes são os finais em que o jogador conseguiu terminar o jogo com o karma meter em uma posição exata, sem meios termos. Ou ele fica com a namorada, ou com a amante, ou sozinho. Caso as respostas que o jogador dê não sejam satisfatórias para colocar o karma meter em um lugar exato, ele pode fazer um desses finais só que será ruim. Para mais informações, visite: http://catherinethegame.wikia.com/wiki/Endings
Parece sim um dating SIM game, mas não chega a isso. O jogador deve escolher entre Katherine – a namorada de Vincent, uma mulher madura de 32 anos – ou Catherine – uma jovem de 22 que simplesmente ataca Vincent no bar. Ou o jogador pode simplesmente escolher nenhuma delas.
Existem routes a serem tomadas, mas nenhuma delas impede que a reflexão e tortura mental de Vicent saiam do centro de destaque no jogo. O processo doloroso de tudo isso que ele está passando é o foco. Ele precisa tomar uma decisão na vida: qual será?
Em relação à jogabilidade, o jogo permite que você ande e fale com personagens independentemente enquanto está no bar. Também é possível trocar mensagens pelo celular, receber fotos e ligações, salvar e jogar um minigame da Rapunzel que tem no fliperama desse bar. Esse jogo apresenta a mesma jogabilidade dos puzzles do jogo, a diferença é que os movimentos são limitados, sendo, consequentemente, mais difícil.
O jogo não era um dating sim? Na verdade, Catherine é um puzzle. A parte de escolher caminhos parece um outro tipo de jogo dentro da história de perturbação mental de Vicent. Na verdade, o dever mais real do jogador é passar pelos puzzles do jogo. O tipo de puzzle é action, o que significa que você não vai ficar pensando em número e peças de quebra cabeça, você vai ter que se mexer para resolver; no caso, sobreviver.
A intenção é escalar blocos e mais blocos até chegar no topo sem cair, sem ser derrubado, sem ser morto pelo chefão ocasional (sim, um puzzle com chefão), enfim: você tem que chegar no topo.
Cada puzzle é tematizado com um estágio de julgamento pelo qual Vicent passará os 9 dias, com a dificuldade aumentando a cada dia.
O gráfico também é um eye-candy. Até agora foi o gráfico inspirado em estética de anime com a movimentação mais bela e natural que já vi. Com exceção de algumas bocas que o Vicent faz, os movimentos de todos os outros personagens, homens e mulheres, é muito bom, muito certo, natural. Sem contar que a imagem é linda: o gráfico é muito mais bonito que as cut-scenes, que foram feitas em uma animação 2D comum. Visualmente, o jogo vale muito a pena.
Conclusão: Catherine é, portanto, um jogo que mistura duas coisas de uma maneira bem harmônica. Tem muitas cut-scenes, diálogos, e muito puzzle, então se você não está interessado em ver personagens se desenvolvendo psicologicamente por meio de longas conversas e texto, este não é o seu jogo. E a questão de confusão, ansiedade e medo em virtude da maturidade e dos relacionamentos da vida é muito bem explorada em Catherine, não só pelo lado de Vincent, mas também pelo lado dos outros personagens masculinos que têm problemas, que expõem estes problemas no bar e que, caso o jogador escolha, eventualmente têm esses problemas resolvidos. É um jogo que mostra a complexidade da natureza humana em face da luta de sexos por meio de vários pontos de vista.
Defeitos:
Apesar de o jogo ser único e de oferecer uma experiência magnífica para jogar, tenho algumas ressalvas, sérias ressalvas, que vão desde defeitos na jogabilidade até falhas na história.
1. A câmera.
Ouvi dizer que o puzzle de Catherine era extremamente difícil, quase impossível. Felizmente (ou infelizmente) não o é, mas o jogo peca em algo que faz com que os puzzle sejam irritantes: a câmera. Ela não é controlável – pelo menos não satisfatóriamente – e quando age por conta própria faz com que o jogador não veja Vincent, que o perca de vista por segundos valiosos, principalmente quando o chefão ataca. A câmera prefere focar no golpe do chefão, fazendo com que você não veja para onde está indo. Você é obrigado a ficar parado e esperar a câmera ficar quieta, o que acabou com a nossa paciência por mais da metade do jogo.
2. A câmera.
3. A câmera.
4. A Chaos Route, que é a que ele fica com a Catherine (a mais novinha). A explicação só pode ser feita por meio de…
Conclusão: de qualquer maneira, apesar dos defeitos, creio que Catherine seja um bom jogo para ser jogado. Vale a pena o tempo gasto nele, porque ele é, acima de tudo, divertido e as personagens são, no mínimo, interessantes. Tem até um trap.
Mas enfim, se você não gosta de jogos que deve se envolver, Catherine não é para você.
Segue a seguir a galeria:
Para quem quer se aprofundar na questão de gênero e estereótipo, leia este artigo no Gamasutra (em inglês): Catherine and Gender Stereotypes
Para quem quiser ler uma review que detalhe melhor a jogabilidade, acesse este link da revista Arkade: “CATHERINE (PS3, X360) REVIEW: EROTISMO, OVELHAS E BIZARRICE” .