por Brian Ashcraft – Nesse último domingo, 1º de maio, que além de Dia o Trabalho é o início da Golden Week para os japoneses, os executivos da Sony Kazuo Hirai, Shinji Hasejima e Shiro Kambe responderam a perguntas de jornalistas sobre a falha de segurança da PSN que colocou em risco informações privadas de mais de 70 milhões de contas. Os executivos não só pediram desculpas, como também se curvaram por sete segundos em sinal de respeito.
No mundo japonês dos altos executivos, essa reverência (ojigi, em japonês) é comum em conferências de imprensa. Seja em situações como o escândalo sobre envenenamento de alimentos da Snow Brand Milk ou como um recall da Toyota, curvar-se em respeito é um pré-requisito para desculpas em público. Executivos posicionam as mãos ao lado do corpo de curvam-se até um ângulo de 45º, com os rostos todos voltados para o chão. Deve ser 45º – 35º é considerado apenas uma saudação. Dogeza é um tipo mais extremo desse gesto: a pessoa ajoelha-se e apoia as mãos no chão para pedir desculpas. Os executivos não usam esse tipo de reverência quando pedem desculpas.
Curvar-se não é somente um gesto de arrependimento, mas também um gesto de saudação. O povo japonês se curva para uma infinidade de propósitos, seja para dizer “olá” e “até logo”, seja para dizer “desculpe”. Nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, um simples aceno de mão tornou-se mais aceitável como forma de cumprimento, mas o gesto tradicional ainda é curvar-se. É um gesto de respeito. Mesmo hoje, crianças na escola levantam-se e se curvam para os professores na sala de aula. Mesmo em muitos supermercados, os funcionários do caixa curvam-se ligeiramente quando entregam o troco. E em muitas lojas, vendedores curvam-se quando o cliente realiza uma compra. E não importa se o cliente vê ou não o gesto. Presenciei a cena em que um vendedor de carros curvou-se por um longo minuto depois que o cliente pegou o seu veículo e saiu dirigindo. O motorista não podia ver que o vendedor mantinha a cabeça abaixada; todo o resto das pessoas que estavam ali podiam. É uma manifestação visual.
Existem muitas maneiras de se curvar, e o quão mais a cabeça é abaixada denota o grau de formalidade. No Japão, onde ainda existe a figura do imperador (apesar de sem autoridade), a idéia de mostrar que você é menor em relação a outra pessoas como sinal de respeito é muito importante. Quando pede-se desculpas, curva-se para mostrar que você é fisicamente menor; essa noção é introduzida em crianças pequenas que são orientadas (ou forçadas pelos pais) a curvar-se caso tenham feito algo de ruim.
No Japão, curvar-se é igualável a pedir desculpas, então ver o trio da Sony curvando-se em uma transmissão televisiva não é muito lá grande coisa no Japão. Esses tipos de conferência começam (e terminam) com os conferencistas se curvando. Alguns anos atrás, um político americano exigiu que executivos na Wall Street se curvassem em razão de seu mau gerenciamento, mas no Japão, esses espetáculos não são grande coisa. É uma representação visual de pessoas pedindo desculpas. Se elas realmente são sinceras, aí é outra história.
Esse gesto no ambiente corporativo duram cerca de 10 a 15 segundos. Quando o ex-presidente da Mitsubishi Motors Corp. desculpou-se por duas décadas de defeitos em produtos, ele ficou curvado por um minuto inteiro. Os executivos da Sony curvaram-se por sete segundos. Cínicos farão a leitura que quiserem disso.
Em alguma ocasiões, pedir desculpas e curvar-se não é suficiente. Quando o voo 123 da Japan Airlines caiu em 1985, causando a morte de 520 passageiros, o então presidente da companhia visitou pessoalmente as 520 famílias. E quando terminou as visitas, resignou. O gerente de manutenção da companhia e o engenheiro que fez vista grossa aos reparos inadequados no avião fizeram de suas desculpas o sacrifício supremo: ambos cometeram suicídio.
Para mais leitura relacionada ao gesto de se curvar e a pedir desculpas no Japão, leia esse artigo.
Texto original: Kotaku
Para quem quiser saber um pouco mais sobre o gesto, esse post explica bem.