Fiquei muitíssimo feliz com essa notícia no Sankaku Complex. Feliz porque eu torço para esse jogo dar certo, o que aparentemente aconteceu, ao menos um pouco. Uma sequel ser lançada em menos de um ano depois do lançamento do primeiro título não é pouca coisa. Significa que houve uma recepção pelo menos razoável e que os designers não estavam totalmente errados em fazer o que fizeram.
Pelas imagens na notícia, podemos ver que a Compile Heart pretende aperfeiçoar alguns esquemas de jogabilidade e de interação, procurando manter o mesmo estilo de visual de personagens e cenário.
Isso significa que o gráfico vai continuar sendo bonito e que as personagens vão continuar sendo “jovens garotas perturbadoramente sexualizadas”, como o autor Artefact, do Sankaku, gosta de ironizar.
E eu ironizo também porque essa é uma das consagradas frases de uma das consagradas críticas de um dos consagrados sites de críticas de videogame que existem. E eu aproveito o anúncio da sequel para enunciar o meu desagrado pelo crítico e pela crítica deste e similares.
Deixo claro que Hyperdimension Neptunia não é um grande jogo, é meio ruim até. Mas ele é ruim por falta de elementos de lúdicos, por falta de animação, por falta de NPCs, town exploration, essas coisas que um RPG costuma ter. Ele não é ruim porque causa as personagens são anime girls, de maneira alguma.
A explicação da história é a seguinte: quando Hyperdimension Neptunia foi lançado, todo mundo avançou em cima porque era “o” jogo em que as personagens era personificações dos consoles de videogame mais famosos, e assim seria simulada a guerra de consoles da nossa atualidade. Eu acho que um erro de tradução jap-en pode ter ocorrido por aí, mas enfim. O jogo saiu e então esses sites famosos de reviews (que eu nunca gostei e nunca dei muito crédito porque eles são muito parciais fingindo não ser) como Gamespot, IGN e Eurogamer fizeram as resenhas, e eles acabaram com o jogo, sob argumentos de que o humor no jogo era baseado em um “sexismo japonês sem graça, velho e feio [sic]”. Ainda adicionaram que só vão gostar desse jogo fãs de anime japanófilos (japanophile, no original) que conseguem fazer vista grossa ao pouco conteúdo de videogame e tratar o jogo como uma curiosidade cultural (tl;dl). Eles ainda terminam escrachando, dizendo que o jogo é sem sentido, sexista e definitivamente estúpido.
Esse crítico provavelmente não sabia o que estava falando, pois no texto dele vê-se com clareza que ele possui um conhecimento apenas superficial da cultura de anime e mangá. Mas não foi isso o que me deixou mais brava.
Eu fiquei possessa com outra crítica, porque quem escreveu devia estar com o ego tão inflado que se viu no direito de usar um vocabulário que nem ela/ele deve saber o que significa. Essa pessoa – apesar de sua review ter considerado como fator ruim alguns elementos do jogo, no que ela/ele teve razão – disse que, já que o jogo personificava cada grande console existente, esperava-se uma “desconstrução impressionante da indústria do videogame [sic]”. DESCONSTRUÇÃO. Desconstrução segundo quem, eu perguntaria em primeiro lugar. Apesar de parecer, essa palavra não tem ainda uma significação clara, e é irritante quando ela é usada livremente sem fundamentação. Esse “ser” ocidental superficialmente feminista egocêntrico acha que sabe o que é desconstrução tão bem a ponto de requerir uma. Esclarecendo: desconstrução hoje em dia é um conceito que ainda está em debate na filosofia e na crítica literária. Se eu tivesse que defini-lo, de alguma maneira, eu definiria como “olhar para algo por vias não tradicionas sem priorizar uma única visão”. Se formos pensar por esse conceito, então o jogo ofecere SIM uma desconstrução da indústria do videogame, por está oferencendo uma abordagem diferente e não a está protegendo como se fosse a única.
Eu concordo com o autor Artefact quando ele fala que “heroínas sexy são apenas permitidas quando elas estão mergulhadas em sangue acompanhadas de psicopatas musculosos” ou quando elas são “velhas feias”.
Quem escreveu essas reviews não sabe como analisar um jogo desse tipo. Se você for analisá-lo do ponto de vista de quem idolatra Fallout, é um Hyperdimension Neptunia é péssimo. Esse tipo de review só adiciona mais lenha na fogueira da RPG War que ocorre no momento.
Minha opinião é clara: eu gosto de ver coisas bonitas. Não consigo jogar Fallout ou Mass Effect porque o jogo é muitíssimo feio. E também porque o tal “sistema magnífico de interação em que sua resposta realmente importa” não é tão magnífico assim; em meia hora de jogo eu saquei o que tinha de fazer e a partir daí tudo perdeu a graça.
É o que eu sempre digo: se eu quiser ver homem suado, fedido e barbado, eu vou na rodoviária que tem vários. Se eu quiser ver lugares “hiperrealísticos, que simulam muito bem a destruição mundial” eu vou no banheiro dessa rodoviária. E a quantidade de detalhes não faz cair os FPS.
Eu não pago nem um tostão para ver coisas mais feias do que eu vejo no meu dia-a-dia.
Hyperdimension Neptunia falha? Sim, falha. E são falhas claramente causadas por falta de tempo da equipe de design. É um RPG do tipo dungeon crawler, então não se pode requerer coisas que o gênero não suporta. Espero que essas falhas sejam arrumadas para a sequel, espero que existam animações, que exista um maior nível de exploração, que o jogo seja feito de um jeito que o jogador se sinta mais no poder por mais tempo. Mas é ESSE e ponto. Criticar o jogo em razão unicamente das personagens, nesse caso e desse jeito, é criticar uma cultura inteira, sem precedentes. E, por favor, no mundo de hoje já está arcaica esse tipo de discussão.
Tem dúvidas sobre a arte visual de Hyperdimension Neptunia? Olhe a galeria.